Já escrevi vários inícios diferentes para este post. Nenhum me satisfez... No fundo, queria explicar a quem lesse esta pequena rábula o que penso a respeito da Igreja como instituição e do Catolicismo. É deveras complicado escrever sobre este assunto sem me perder na complexidade inerente à análise da existência de uma instituição milenar como é a Igreja. Como tal, e correndo o risco de parecer superficial por tentar abordar vários tópicos de uma só vez, vou tentar sintetizar alguns dos meus pontos de vista, discutíveis certamente (!), sobre a Igreja. Reparem que as minhas críticas não se dirigem a uma pessoa em particular mas a esta instituição e ao que simboliza... Este post deve ser entendido como um convite à discussão (ena ena! mas que bem!) já que este blog moribundo carece de actividade urgentemente...
Começei a pensar em escrever qualquer coisa sobre este tema quando o Papa deu entrada na clínica Gemelli em estado crítico. Lembro-me de na altura ter pensado "mas porque é que ele não renuncia!?" O Papa não estava, obviamente, em condições de presidir à Igreja nem de exercer as suas devidas funções como sumo pontífice... Porque não renunciar? Porquê deixar que a sua debilidade física, o seu sofrimento fosse comparado ao de Jesus no final da sua existência? Seria esse o seu objectivo? Sofrer como Jesus sofreu para o bem da humanidade? Gostaria de pensar que não pois, caso contrário, os cuidados paleativos prestados por técnicos de saúde a doentes em fase terminal teriam de ser entendidos como algo extremamente negativo. Pessoalmente não consigo assimilar tal conceito e não creio que tenha sido esse o propósito. Aliás, não creio sequer que seja possível discernir uma finalidade em tudo o que se passou durante aquela semana. As mentes mais férteis poderiam ainda especular sobre se quereria João Paulo II dar o exemplo em relação à eutanásia? Creio que não. Mais, espero que não pois eu, estudante de medicina, sou a favor da eutanásia... Mas isso fica para outro post...
Bem, raciocinando um pouco agora, pensemos no que acontece quando o CEO de uma empresa dá sinais de incapacidade... É muito simples! O líder é substituido. Fim da história. Ora aqui reside um dos primeiros pontos em que estaquei... A Igreja é responsável em todo o mundo por diversas obras de apoio social, pelo auxílio prestado a milhões de famílias carenciadas, pela pela transmissão de uma mensagem de esperança aos que já a perderam e que encontram em Deus uma nova força à qual se podem agarrar, enfim, por uma infinidade de acções a todos os títulos louváveis. Ainda assim, a Igreja constitui-se presentemente como uma instituição moralmente retrógrada, obscura, hipócrita, pouco "cristã" se quisermos... O que é a Igreja hoje, e talvez desde sempre, se não uma empresa? Uma multi-nacional cujo negócio principal é a religião! Sim, creio que é deste modo que eu a concebo. Na idade média confundia-se com a nobreza ou mesmo com o poder Régio e hoje, o Vaticano e o banco Ambrosini (por exemplo) formam uma das mais poderosas instituições que já conhecemos na nossa história... Falo de duas coisas diferentes como uma só porque, para dizer a verdade, não sei onde acaba uma e começa a outra... Talvez os banqueiros não saibam dar a missa, e os padres não saibam o que é um certificado de aforro, mas lá que existe ali uma relação promíscua...
Herege!!!
Esta é talvez uma concepção pouco popular da Igreja mas não a consigo conceber de outra forma. Como funciona? Recolhe-se o dinheiro dos fiéis, tanto quanto quiserem dar, e usa-se esse fundo para que seja aplicado em prol da instituição! Já na idade média, os nobres pagavam a sua entrada no paraíso e ao povo esse pagamento era extorquido, directa, ou indirectamente... Pertencer ao Clero era ser superior ao vulgar elemento do povo! Os eclesiastas, que pretensamente haviam feito um voto de pobreza, encontravam-se entre os homens mais ricos do mundo! A Igreja, composta por homens que prestaram um voto de pobreza mas cuja indumentária incluí vestes dos melhores tecidos bordados a ouro, é uma das instituições mais ricas que jamais existiu. Não há aqui nada de estranho?! Terá sido esta a mensagem passada por Jesus Cristo? Não foi esse o homem que incompatibilizou a pureza de espírito com a riqueza?
Como é evidente, onde há dinheiro há corrupção, e a Igreja não é excepção... Aliás, quando se vê bem a questão, a Igreja nunca é excepção! Particularmente quando nos reportamos a assuntos negativos (mas que belo eufemismo) como a pedofilia ou, andando um pouco para trás, a escravatura, a Santa Inquisição...
A lista de crimes que a Igreja cometeu desde a sua criação é interminável. O próprio princípio em que esta instituição devia assentar não é cumprido!! Todos os homens foram criados iguais... pois claro... Todos menos os judeus, os hereges, os que se revelavam contra a Igreja e que por isso foram levados ao tribunal do Santo Ofício e sentenciados à perda de todos os seus bens (alguém tinha de pagar a conta da santidade e pureza de espírito!), à morte, condenados à tortura... Todos foram criados iguais... à excepção dos escravos africanos, dos índios sul americanos com quem os missionários tanto se divertiram a ensinar a catequese em nome de Deus. Todos são iguais! Uns mais iguais que outros! O Papa é superior, os cardeais são iguais entre si, inferiores ao Papa... e daí em diante... até ao diácono... Podemos mesmo ir mais a fundo! Se somos todos mesmo iguais, então porque devemos obedecer aos ensinamentos de um homem? Porque não pensar pela nossa própria cabeça e decidir o que consideramos ser melhor? Porque temos de cumprir protocolos, passar por determinados rituais ao longo da vida só para sermos aceites no reino de Deus? Não chega ser boa pessoa e não fazer mal a ninguém? Dizem amigos meus que são católicos "vou à missa porque gosto, porque me sinto bem, não pela obrigação de ir!"... Será imaginação minha ou uma das coisas importantes do Crisma é que a responsabilidade de ir à missa passa a ser imputada ao próprio ao invés de o ser aos seus pais? A responsabilidade de ir à missa! Isto significa que se não forem à missa têm de se ir confessar... Não me parece que seja propriamente uma questão de vontade... Até podem gostar de ir a missa, mas mesmo que não gostassem, iam forçados... Ou isso ou o inferno!! Não é bela a doutrina? Por favor, corrijam-me se o que atrás referi está errado (já vejo os comments a chegar...)!!!
Acredito em Deus... mas não como o concebem os católicos... Para mim, enquanto a ciência não for capaz de descortinar de onde vem tudo isto que vemos à nossa volta, existirá sempre uma entidade qualquer que nos é superior. Essa entidade não é, evidentemente, perfeita como o Deus católico... Nem será necessariamente omnisciente... É, simplesmente, superior... De uma forma que não posso caracterizar (não possuo uma bíblia que me diga como é...).
Em suma, apesar de respeitar a lição que, propositadamente ou não (digo isto porque ainda não há certezas quanto ao facto de Jesus se ter deslocado até aos seus inimigos para ser castigado), Jesus Cristo nos deu no decorrer daquilo que se denomina Via Sacra. Assumindo que Jesus era mesmo o redentor (é também discutível de Jesus é quem dizia que era...), tem de se reconhecer que o facto de ter existido um homem disposto a passar por tal sofrimento por acreditar que isso vai redimir toda a humanidade, deveria fazer-nos sentir que devemos corresponder a esse sofrimento tentando ser pessoas melhores... Acho que essa é a verdadeira lição da historinha da Bíblia. Acredite-se ou não... A Igreja bem podia não existir... Se fizermos um balanço da sua actividade ao longo da história, tenho dúvidas que seja positivo.
Bem hajam...