domingo, 27 de novembro de 2005

Hidromecânica

Olho para o meu último post, redigido bem antes desta nova mudança de look e mentalidade que parece ter vindo para ficar aqui na Residência Espanhola, e não posso deixar de me sentir ligeiramente nauseado... Se não é o parágrafo mais vazio, mais constrangedor que já escrevi, então não sei o que será. Deixei-me levar pela vontade de dizer qualquer coisa, de tentar agitar as águas, num blog que se encontrava bem estagnado... Infelizmente, a boa vontade não foi acompanhada pelo sentimento que, em circunstâncias normais, me leva a escrever. A verdade é que quando escrevo, não o faço para mais ninguém que não para mim. E como se pode constatar pelo meu último post, quando a minha prosa assenta em outro móbil que não esse, as coisas não correm muito bem. Melhor ainda que escrever para mim, é escrever partindo de mim. Fazê-lo pensando no que os outros podem pensar ou em como podem reagir, costuma dar mau resultado... Como tal, e apesar da onda de súbita euforia que parece ter atingido este blog, gostava de deixar aqui uma coisinha ou outra, que creio serem essenciais...

Estou certo que as pessoas que contribuem para este blog têm todas as capacidades para o transformar num espaço em que abunde a criatividade, a originalidade, o sentido de humor inteligente, a crítica séria e construtiva, enfim, é gente inteligente e com mente prolífica.

Não posso, ainda assim, deixar de me questionar... Onde vai levar esta onda de euforia? É que, como esta, houve muitas outras no passado e os resultados foram... bem, foram o que se viu não é? Importa salientar que não questiono sequer a duração da euforia... sei que será curta. A euforia é como uma onda gigantesca que nos pode levar muito longe se a apanharmos, mas que também nos pode deitar, imediatamente, abaixo se não estivermos atentos. Assim, temos três opções... Apanhamos a onda e vamos até onde ela nos leva, mergulhamos sob a onda ignorando até onde ela nos poderia ter levado, levamos com a onda na cabeça e ficamos sem saber o que é que aconteceu. Interessam-me as duas primeiras hipóteses, já que gosto de considerar que a minha consciência me mantem suficientemente alerta para poder avaliar se vale a pena ir na onda ou não (e já agora, para ver que existe uma onda!). Na verdade toda a dinâmica deste complexo sentimento se assemelha muito com a hidrodinâmica, como de resto creio que já fiz notar. Vai e vem... vai e vem... E ainda bem!! Não consigo imaginar nada mais entediante que viver sempre num estado de êxtase desmesurado! Que idiotas seríamos todos nós se não tivessemos alguma vez passado por algum tipo de sofrimento que nos obrigasse a modificar a nossa maneira de pensar e de agir, que nos obrigasse a crescer! Há, no entanto, que saber domar estes momentos de euforia, de modo a que os possamos transformar em algo útil. Algo que fique, efectivamente, na memória de cada indivíduo e não apenas num momento perdido no tempo. Não é fácil, eu sei. Nunca, em última instância, dependemos apenas de nós próprios para levar as nossas intenções a bom porto, mas podemos fazer um esforço. Contra mim falo, aceito isso. Nem sempre estou disposto a fazer esse esforço, mas sou humano e não consigo evitar acomodar-me a certas situações. Mesmo assim, fico contente por saber que a minha mente nem sempre acompanha essa onda de comodismo tão entranhada na nossa cultura. É reconfortante saber que ainda não cedi à indolência espiritual que me é imposta por tantos agentes desta sociedade...

Na minha modesta opinião, escrever (porque é disso que aqui se trata) não é compatível com datas, metas ou imposições. Como outras formas de Arte, tem de vir do âmago de cada um de nós. O momento em que nos sentimos predispostos a passar para papel (ou formato digital) aquilo que nos vai na alma não pode ser marcado, predefinido. Não é necessário euforia, não é necessário tristeza e muito menos é necessária uma data limite. Só é essencial sentir aquele impulso que nos compele a expor as nossas ideias, as nossas críticas, os nossos sentimentos. Não escrevo por encomenda, escrevo para mim. Não sou um cronista, sou um aluno de medicina que gostava de ser Dj...

6 comentários:

garutti disse...

Correndo o risco de transformar isto num fórum, tenho que te dizer que acho que interpretaste mal o que escrevi. Não sou apologista de escrever por imposição; o meu post ia exactamente na direcção contrária, devemos escrever coisas sentidas e, peço desculpa se soa a imposição, originais.
Quanto ao teu post, embora concorde com alguns pontos, admito que gostei mais do anterior, porque o outro fez-me rir e este entristeceu-me. Desculpa se tou a ser muito duro, estou um bocado cansado... Quando tivermos juntos explico-te melhor.

jp disse...

*YAWN*

Ana disse...

tem piada que tb devo ter lido este post como o miguel...
acho que nao me entendeste..

acho também que pensar que estamos a fazer arte por aqui será no mínimo presunçoso, ou então não... afinal é a tal tansfiguração do real que tanto falávamos em filosofia, mas não é tudo?...

Não concordo contigo no último parágrafo, ao contrário do que dizias todos os artistas têm metas, trabalham com prazos e mais não seja têm a imposição da fome para os fazer trabalhar.

DF disse...

O que aqui escrevi, não foi uma resposta a nenhum dos posts anteriores. Como disse de início, escrevi para mim, não para vos responder. Quero responder-vos, sim, e poderia fazê-lo em pessoa, assim surgisse este ou aquele assunto... Agora vejo-me obrigado a dizer aqui qualquer coisita... Concordo plenamente contigo Ferrari, mas eu não sou contra a euforia! Só me faz confusão quando dela não surge nada. Eu preciso dos meus momentos de euforia, toda a gente precisa! O desafio está em aproveitar essa energia para fazer algo que importe. Isso é que é difícil...

Mais, eu nunca disse que o que aqui fazia era arte Ana. Deves ter lido mal... Disse que para fazer Arte é necessário sentir um impulso especial. Isso não significa que quando sinto um impulso especial, eu produza arte. Quanto às metas, daria um novo post explicar-te porque as acho ridículas e altamente limitadoras no que concerne a actividade artística e como tal, por aqui me fico. Se achas que a existência de limitações temporais à criação artística é algo que é admitido pacificamente entre a comunidade artística, então também não tenho muito mais a dizer! Cada cabeça, sua sentença. Eu não sou um artista profissional, sou aquilo que digo nesse tal último parágrafo. Logo, ainda mais ridículo seria impôr-me metas neste campo. Se te queres impôr metas, é contigo... Eu não tenho essa pretensão, nem o que eu disse no post se dirigia a ti.

Miguel, fico triste se este post te entristeceu mas, infelizmente, esta foi uma onda em que tive de mergulhar.

Sérgio Silva disse...

Caro Diogo,
Começo por dizer que concordo com muitas coisas que dizes. A mim também me faz confusão quando nada resulta da euforia espontanea, embora goste de acreditar que dela irá nascer algo de novo, algo de bom.
Ao fazeres esse post, ao escreveres para ti num blog público, vieste remar contra a maré embora compreenda o teu ponto de vista.
Quem te diz a ti que está onda iria rebentar esquecida como outra qualquer ?
O desafio é díficil mas não é impossível.
Se bem te lembras foi numa onda de euforia que fomos a Ibiza, que avançamos e marcamos uma viagem que todos acabamos por adorar e que hoje recordamos com imensa saudade.
Tal como tu, eu também não gosto de metas e ao contrário do que a Ana disse, os artistas não têm metas ... trabalham com base na inspiração e demoram o tempo necessário para criar algo que aos seus olhos parece bem.

jp disse...

"A mim também me faz confusão quando nada resulta da euforia espontanea, embora goste de acreditar que dela irá nascer algo de novo, algo de bom."

Nem mais. Considero isto que o ss disse como a "coisa" nos guia, que nos leva sempre a tentar e a fazer mais (outra vez, e outra vez...). E eu não quero perder isso por nada deste mundo.

Mas voltando realmente ao cerne da questão, por favor não reafirmem os vossos posts seguidos de provérbios populares. :P